Falar
em crise econômica é chover no molhado: a situação é global e as dificuldades
refletem em todos os setores. Que o digam os produtores da Mostra de Cinema de
Gostoso e do FestNatal, os dois principais festivais do Rio Grande do Norte que
exibem filmes em longa-metragem na programação. O primeiro luta para realizar
sua terceira edição na praia de São Miguel do Gostoso entre os dias 13 e 17 de
novembro; enquanto o segundo pena para tirar do papel a edição 2015 após passar
o ano passado em branco.
Idealizada
pelo premiado cineasta paulista Eugênio Puppo, a Mostra de Cinema de Gostoso
surgiu em 2013 com sessões à beira mar, uma programação interessante e
atualizada e grande repercussão na mídia especializada. Porém, apesar de toda a
visibilidade conquistada e do cuidado social que envolve jovens de pequenas
comunidades do litoral Norte do RN em torno de oficinas de formação
audiovisual, o projeto ainda corre atrás de recursos para se viabilizar.
“Este
ano está sendo mais difícil realizar a Mostra, mas é bom que se diga que mesmo
nas edições anteriores enfrentamos grandes dificuldades. Percebo um desdém
grande por parte do empresariado com relação a produção artística e cultural do
RN”, criticou Puppo.
De
qualquer forma, a procura de realizadores interessados em exibir seus filmes em
Gostoso aumentou: este ano foram recebidas mais de 500 inscrições, entre
curtas, médias e longas-metragens. Serão selecionados cerca de 50 filmes, que
irão preencher as Mostras Infantil, Panorama e Competitiva. A programação
completa será anunciada dia 12 de outubro no site mostradecinemadegostoso.com.br.
As
novidades para este ano são a redução das sessões da Mostra Competitiva
principal (apenas uma sessão por noite, às 20h30), a inserção de filmes com
apelo mais popular e a criação da Mostra Curtas São Miguel do Gostoso, que irá
exibir os quatro filmes produzidos ao longo das oficinas.
“Pela
primeira vez os filmes rodados pelos alunos vão concorrer entre si. É uma
maneira de fazer com que essa turma entenda como funciona essa dinâmica dos
festivais, além, claro de inserir esses jovens em um mercado de trabalho
especializado”. Puppo informa que as oficinas de formação audiovisual estão em
curso. Com duração de 20 a 40 horas, os cursos atendem 55 jovens e tratam de
Linguagem Cinematográfica, Fotografia, Roteiro, História do Cinema, Montagem,
Vídeo, Produção Cultural e Curadoria.
Vale
ressaltar que a oficina de curadoria embasa a participação dos jovens na
seleção compartilhada dos filmes que serão exibidos durante a Mostra. Segundo
Eugênio Puppo, o festival em São Miguel do Gostoso é o único no mundo que adota
esse sistema de curadoria compartilhada.
Já
a exibição de filmes mais “palatáveis” atende um pedido do público,
identificado através de pesquisas pós-festival. “Mesmo com um perfil mais
popular, vamos manter a qualidade dos filmes exibidos”, avisa o cineasta,
diretor do documentário “Sem pena” premiado no Festival de Brasília ano
passado.
Sugestão
anticrise
Boa
parte dos recursos da 3ª Mostra de Cinema de Gostoso estão garantidos a partir
do patrocínio da Ale Combustíveis e da multinacional de energia eólica
Voltalia. “Acredito que uma das opções para minimizar os efeitos dessa crise
seja incentivar o envolvimento da iniciativa privada, que podem abater até 80%
no recolhimento de impostos ao patrocinar um projeto cultural via lei de
incentivo”.
Eugênio
reforça o coro que defende um maior envolvimento do poder público no sentido de
potencializar a captação de recursos. “Por um lado Estado e Município poderiam
criar uma espécie de lista com o nome das empresas que mais arrecadam impostos (potencial de
patrocínio), por outro poderiam apresentar aos empresários quais projetos estão
aptos ao incentivo”, sugere.
Puppo
divide a coordenação da Mostra de Cinema de Gostoso com o produtor Matheus
Sundfeld. Juntos realizam a partir do dia 21 de outubro “a maior e mais
completa” retrospectiva da obra do cineasta francês Jean-Luc Godard, 84, no
Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Ensaio
para os trinta anos do FestNatal
O
jornalista, crítico de cinema e produtor cultural Valério Andrade, idealizador
de um dos mais antigos festivais de cinema do Nordeste, iniciou as articulações
para emplacar nova edição do FestNatal. Em 2016 o evento celebra 30 anos de
existência, e Andrade negocia parceria com a Secretaria Municipal de Turismo.
“As conversas com a Sectur começaram semana passada, e como o festival tem um
formato flexível o tamanho do evento depende dos recursos disponíveis”, disse
Valério ao VIVER.
O
FestNatal não foi enquadrado em nenhuma lei de incentivo, e o projeto também
não concorre em nenhum edital. “O importante é fazer, nem que seja pequeno.
Estamos nos preparando para os 30 anos do FestNatal em 2016, uma data
mágica", disse o produtor, que negocia ocupar salas da rede Cinépolis
entre os dias 19 e 26 de novembro. “Há ainda a possibilidade da programação ir
para a zona Norte, na minha opinião deveria ser nos dois (Natal Shopping e
Partage Norte Shopping), mas depende da decisão do escritório da rede em São
Paulo”.
Como
a intenção de realizar é recente, Valério irá prospectar os filmes para compor
a programação a partir de contatos que mantém no Rio de Janeiro. “A única
exigência é que os filmes não tenham sido exibidos em Natal”, explica. A
presidência do FestNatal 2015 foi confiada ao jornalista Toinho Silveira, “por
ser uma pessoa que pode contribuir com o evento”, informa Andrade.
Como
Valério Andrade não está a par de orçamento e captação de recursos, a
reportagem do VIVER entrou em contato com Fred Queiroz, titular da pasta de
Turismo do Município. Ele confirmou que as conversas foram iniciadas, mas que
ainda não está definido se o FestNatal 2015 vai vingar. “No momento estamos
levantando custos para ver a viabilidade. Como todos sabem a situação
financeira do Município não está fácil, e particularmente acredito que não seja
viável por falta de tempo hábil para captar recursos junto governo Federal,
Ministério do Turismo e Ministério da Cultura”.
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