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quinta-feira, 17 de setembro de 2015

CINEMA: O DESAFIO DOS FESTIVAIS

Falar em crise econômica é chover no molhado: a situação é global e as dificuldades refletem em todos os setores. Que o digam os produtores da Mostra de Cinema de Gostoso e do FestNatal, os dois principais festivais do Rio Grande do Norte que exibem filmes em longa-metragem na programação. O primeiro luta para realizar sua terceira edição na praia de São Miguel do Gostoso entre os dias 13 e 17 de novembro; enquanto o segundo pena para tirar do papel a edição 2015 após passar o ano passado em branco.

Idealizada pelo premiado cineasta paulista Eugênio Puppo, a Mostra de Cinema de Gostoso surgiu em 2013 com sessões à beira mar, uma programação interessante e atualizada e grande repercussão na mídia especializada. Porém, apesar de toda a visibilidade conquistada e do cuidado social que envolve jovens de pequenas comunidades do litoral Norte do RN em torno de oficinas de formação audiovisual, o projeto ainda corre atrás de recursos para se viabilizar.

“Este ano está sendo mais difícil realizar a Mostra, mas é bom que se diga que mesmo nas edições anteriores enfrentamos grandes dificuldades. Percebo um desdém grande por parte do empresariado com relação a produção artística e cultural do RN”, criticou Puppo.

De qualquer forma, a procura de realizadores interessados em exibir seus filmes em Gostoso aumentou: este ano foram recebidas mais de 500 inscrições, entre curtas, médias e longas-metragens. Serão selecionados cerca de 50 filmes, que irão preencher as Mostras Infantil, Panorama e Competitiva. A programação completa será anunciada dia 12 de outubro no site mostradecinemadegostoso.com.br.

As novidades para este ano são a redução das sessões da Mostra Competitiva principal (apenas uma sessão por noite, às 20h30), a inserção de filmes com apelo mais popular e a criação da Mostra Curtas São Miguel do Gostoso, que irá exibir os quatro filmes produzidos ao longo das oficinas.

“Pela primeira vez os filmes rodados pelos alunos vão concorrer entre si. É uma maneira de fazer com que essa turma entenda como funciona essa dinâmica dos festivais, além, claro de inserir esses jovens em um mercado de trabalho especializado”. Puppo informa que as oficinas de formação audiovisual estão em curso. Com duração de 20 a 40 horas, os cursos atendem 55 jovens e tratam de Linguagem Cinematográfica, Fotografia, Roteiro, História do Cinema, Montagem, Vídeo, Produção Cultural e Curadoria.

Vale ressaltar que a oficina de curadoria embasa a participação dos jovens na seleção compartilhada dos filmes que serão exibidos durante a Mostra. Segundo Eugênio Puppo, o festival em São Miguel do Gostoso é o único no mundo que adota esse sistema de curadoria compartilhada.

Já a exibição de filmes mais “palatáveis” atende um pedido do público, identificado através de pesquisas pós-festival. “Mesmo com um perfil mais popular, vamos manter a qualidade dos filmes exibidos”, avisa o cineasta, diretor do documentário “Sem pena” premiado no Festival de Brasília ano passado.

Sugestão anticrise
Boa parte dos recursos da 3ª Mostra de Cinema de Gostoso estão garantidos a partir do patrocínio da Ale Combustíveis e da multinacional de energia eólica Voltalia. “Acredito que uma das opções para minimizar os efeitos dessa crise seja incentivar o envolvimento da iniciativa privada, que podem abater até 80% no recolhimento de impostos ao patrocinar um projeto cultural via lei de incentivo”.

Eugênio reforça o coro que defende um maior envolvimento do poder público no sentido de potencializar a captação de recursos. “Por um lado Estado e Município poderiam criar uma espécie de lista com o nome das empresas que  mais arrecadam impostos (potencial de patrocínio), por outro poderiam apresentar aos empresários quais projetos estão aptos ao incentivo”, sugere.

Puppo divide a coordenação da Mostra de Cinema de Gostoso com o produtor Matheus Sundfeld. Juntos realizam a partir do dia 21 de outubro “a maior e mais completa” retrospectiva da obra do cineasta francês Jean-Luc Godard, 84, no Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

Ensaio para os trinta anos do FestNatal
O jornalista, crítico de cinema e produtor cultural Valério Andrade, idealizador de um dos mais antigos festivais de cinema do Nordeste, iniciou as articulações para emplacar nova edição do FestNatal. Em 2016 o evento celebra 30 anos de existência, e Andrade negocia parceria com a Secretaria Municipal de Turismo. “As conversas com a Sectur começaram semana passada, e como o festival tem um formato flexível o tamanho do evento depende dos recursos disponíveis”, disse Valério ao VIVER.

O FestNatal não foi enquadrado em nenhuma lei de incentivo, e o projeto também não concorre em nenhum edital. “O importante é fazer, nem que seja pequeno. Estamos nos preparando para os 30 anos do FestNatal em 2016, uma data mágica", disse o produtor, que negocia ocupar salas da rede Cinépolis entre os dias 19 e 26 de novembro. “Há ainda a possibilidade da programação ir para a zona Norte, na minha opinião deveria ser nos dois (Natal Shopping e Partage Norte Shopping), mas depende da decisão do escritório da rede em São Paulo”.

Como a intenção de realizar é recente, Valério irá prospectar os filmes para compor a programação a partir de contatos que mantém no Rio de Janeiro. “A única exigência é que os filmes não tenham sido exibidos em Natal”, explica. A presidência do FestNatal 2015 foi confiada ao jornalista Toinho Silveira, “por ser uma pessoa que pode contribuir com o evento”, informa Andrade.


Como Valério Andrade não está a par de orçamento e captação de recursos, a reportagem do VIVER entrou em contato com Fred Queiroz, titular da pasta de Turismo do Município. Ele confirmou que as conversas foram iniciadas, mas que ainda não está definido se o FestNatal 2015 vai vingar. “No momento estamos levantando custos para ver a viabilidade. Como todos sabem a situação financeira do Município não está fácil, e particularmente acredito que não seja viável por falta de tempo hábil para captar recursos junto governo Federal, Ministério do Turismo e Ministério da Cultura”.

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