Em
meio ao surto de casos de microcefalia, uma outra complicação associada ao
vírus zika tem deixado médicos e autoridades de saúde em alerta no Nordeste e
em outras regiões do país.
São
casos da síndrome de Guillain-Barré, uma doença rara que gera fraqueza muscular
e pode causar paralisia.
O
Ministério da Saúde admite que houve um avanço dos casos, mas diz não ter dados
nacionais -a doença não é de notificação compulsória ao órgão federal.
Levantamento
feito pela Folha com dados das secretarias de Saúde, no entanto, aponta ao
menos 554 casos notificados pelos hospitais aos gestores de saúde no Nordeste
neste ano, a maioria entre maio e outubro.
No
total, 165 já foram confirmados. Os demais permanecem em investigação.
O
Estado com mais notificações é a Bahia, com 156 casos (65 confirmados e os
demais em investigação). Em seguida, vem Pernambuco, com 127 registros -46
confirmados e 81 em apuração.
Além
do Nordeste, Estados de outras regiões com circulação de zika (18 já têm casos
autóctones) também já investigam aumento nos registros. No Rio de Janeiro, há
quatro casos suspeitos.
Segundo
o infectologista Carlos Brito, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), o
período de maior identificação dos casos coincide com o possível pico de uma
epidemia que, até então, era tida como só de dengue.
“Isso
mostra que a maior epidemia que tivemos aqui em Pernambuco foi efetivamente de
zika”, afirma.
Isso
porque a síndrome de Guillain-Barré costuma aparecer de quatro dias a quatro
semanas após um quadro de infecção.
Entre
as causas mais conhecidas estão o citomegalovírus e o vírus Epstein-Barr. Os
novos casos, porém, têm tido exames descartados para esses agentes. Ao mesmo
tempo, crescem os relatos de uma associação da síndrome ao vírus zika,
transmitido pelo Aedes aegypti, o mesmo da dengue e da chikungunya.
No
Recife, a confirmação ocorreu após análise de quatro pacientes que
desenvolveram a Guillain-Barré semanas após terem sintomas “brandos” que sugeriam
uma infecção pelo zika, como manchas vermelhas, coceira e dores no corpo.
A
prova da relação com o vírus veio após exame mais complexo, feito a partir do
líquido da medula dos pacientes, que confirmou a presença do zika.
No
Maranhão, de 32 casos suspeitos neste ano, 13 já foram confirmados. “Após a
investigação, ficou constatado que há ligação com infecção viral do zika”,
afirma a Secretaria estadual de Saúde.
Em
nota, o Ministério da Saúde diz que a ocorrência de Guillain-Barré continua a
ser investigada, mas admite que “a infecção pelo zika também pode provocar a
síndrome”.