Embora
a presidente Dilma Rousseff venha repetindo que o Bolsa Família está a salvo de
cortes, diante da necessidade de ajuste fiscal, repasses mensais para garantir
a gestão do programa estão atrasados. Estados e municípios só receberam os
valores referentes ao primeiro semestre do ano. De julho para cá, nenhum
centavo do dinheiro destinado a manter o funcionamento do Bolsa Família foi
depositado nas contas.
A
falta de pontualidade nos pagamentos já provoca reflexos. Uma das ações
prejudicadas é a chamada busca ativa, anunciada como eixo central do Brasil sem
Miséria, vitrine do primeiro mandato de Dilma, para incluir brasileiros em
extrema miséria ainda não alcançados pelo programa. Outras atividades
desempenhadas com o dinheiro, como a atualização dos cadastros e checagem das
condições exigidas pelo programa, estão ameaçadas.
Neto
Evangelista, secretário de Desenvolvimento Social do Maranhão, um dos estados
mais dependentes do Bolsa Família, conta que os atrasos começaram ainda em
2014. Parte das parcelas do ano passado só foi quitada este ano. O atraso
continuado gerou, segundo ele, dificuldades para gestores municipais.
—
Para alguns municípios, esse recurso faz muita diferença. O atraso acaba impactando
tanto na gestão do que já existe e também na mobilização de equipes para a
busca ativa — diz. — O problema é que, ao longo do tempo, os municípios vão
ganhando competências, mas não recebem recursos.
Em
2015, o orçamento previsto no Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) para a
gestão descentralizada do Bolsa Família, a ser repassado para estados e
municípios, é de R$ 535 milhões. A dois meses do fim do ano, foram efetivamente
pagos R$ 263,8 milhões, menos da metade.
A
pasta sustenta que, como é preciso avaliar quesitos de gestão para calcular os
recursos a serem repassados a cada ente federativo, as transferências são
feitas depois do mês de referência. O ministério diz que planeja transferir, em
breve, os valores referentes a julho, que somam R$ 43,5 milhões.
Presidente
da Confederação Nacional de Municípios, Paulo Ziulkoski afirma que os recursos
sempre foram repassados com periodicidade. Os atrasos acumulados desde o ano
passado, segundo ele, deixam secretários e prefeitos em situação difícil, dada
a complexidade da gestão do programa Bolsa Família na ponta.
—
A estrutura funcional é enorme. São várias exigências. Tem que cadastrar
beneficiários, alimentar o sistema, ver se o menino registrou presença na
escola, se a grávida fez o pré-natal — explica Ziulkoski. — Quase seis meses de
atraso geram uma quantia considerável, que fazem diferença para as prefeituras.
Diferentemente
dos recursos para apoiar prefeituras e estados na gestão do Bolsa Família, a
renda transferida diretamente aos beneficiários não tem sofrido atrasos ou
cortes. Hoje, cerca de 14 milhões de famílias recebem os recursos do programa
federal. O valor médio do repasse é de R$ 164,86 por família, conforme a folha
de pagamento de setembro.
O
Globo
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